15.2.06

Eu e Clarice 1 - Primavera 2005

Hoje é noite de muita estrela no céu.
Parou de chover.
Estou sentada na janela do meu atelier.
Abro bem os olhos e apenas vejo você.
Agora te escreverei tudo que vier na minha mente.
É que me sinto atraída pelo desconhecido.
Mas enquanto eu tiver a mim, não estarei só.
Vivo a loucura que não é loucura. Você entende?
Vou te dizer uma coisa.
Não sei pintar nem melhor, nem pior do que faço.
Eu pinto isto, e escrevo isto. É tudo o que posso.
Hoje de tarde nos encontraremos.
E não te falarei sequer nisso que te escrevo,
que contém o que sou e que te dou de presente,
sem que leias.
Nunca lerás o que te escrevo.
O sangue corre nas minhas veias.
O coração bate depressa.
Os músculos contraindo e retraindo.
A aura do corpo em expansão.
É difícil porque preciso repartir contigo o que sinto.
Não sei aonde tudo isto vai me levar,
mais deixo-me ir, me entrego e relaxo.
Só assim estarei em paz e inteira.

Maria Angélica

Eu e Clarice 2 - Primavera 2005

De novo estou de amor alegre.
Minha história é viver.
E não tenho medo do fracasso.
Guardo o seu nome em segredo.
Preciso de segredos para viver.
Hoje é noite de lua cheia,
pela janela a lua cobre a minha cama e deixa tudo branco azulado.
Lembro de você.
O que te escrevo continua, e estou enfeitiçada.
Estou enfeitiçada pela vida, pelas tintas e por você.
Vou te fazer uma confissão, estou um pouco assustada.
Esta amanhecendo, e a aurora é de muita luz, nas areias da praia.
Estou só. Sem precisar de ninguém.
Como te explicar? Vou tentar.
É tão difícil falar coisas que não podem ser ditas.
É tão silencioso.
Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós duas?
Dificilimo contar.
Olhei para você fixamente por uns instantes,
tais momentos são meu segredo.
Houve o que se chama de comunhão perfeita.
Eu chamo isto de felicidade.
Oh! Deus como estou sendo feliz.
O que estraga a felicidade é o medo.
Tenho medo, mais preciso te dizer,
o meu cavalo corre fogoso de pura alegria,
quando sinto tua presença, o teu cheiro, a tua luz.

Maria Angélica

Eu e Clarice 3 - Primavera 2005

É com uma alegria tão profunda que...
Acordei às 3.30 da madrugada, vim te escrever. Para te escrever eu antes me perfumo toda. Em mim é profunda a vida.
...eu a vi de repente e era uma mulher tão extraordinariamente bela, que eu senti uma alegria de criação. Não é que eu quisesse para mim. Eu queria sòmente olhar.
A mulher olhou um instante para mim e sorriu calma, ela sabia quanto era bela. Sorriu porque não sentiu ameça alguma.
Basta-me que meu coração bata no meu peito.
Basta-me o imposível.
Fico com medo. Mas o coração bate.
O amor inexplicavel faz o coração bater mais depressa.
Escrevo-te toda inteira. Tudo é meu e seu.
Ouve-me. Ouve o meu silêncio.
O que te falo, nunca é o que te falo, e sim outra coisa.
Capta essa coisa que me escapa e no entanto vivo dela.
Começei esta página também com o fim de preparar-me para pintar.
Mas agora estou tomada pelas palavras e quase me liberto das tintas.
Sinto uma felicidade em ir criando o que te dizer.
Estas palavras que te dou não é para ser lida, por ninguém.
Transmito não uma história mais apenas sentimentos.
Isto te diz alguma coisa?

Maria Angélica